30 de setembro de 2011

Doce gentileza


Se você tem caminhado por São Paulo ultimamente já deve ter se deparado com o que considero o maior gesto de gentileza que o proprietário de um certo imóvel pode fazer com a sua vizinhança, quiçá com o resto do mundo. Não estou falando de manter sua calçada bem cuidada, porque isso é obrigação. Gentileza não é obrigação, é simplesmente algo que a gente faz visando proporcionar algo legal aos outros.

Imagine andar no calor que tem feito neste começo de primavera. Ou talvez você não precise imaginar, pois sabe bem como é isso. Final de tarde já começou a ficar mais agradável, mas de vez em quando você sente o calor de um muro que ficou o dia todo quarando. Seu nariz coça por dentro por causa do ar seco, e você caminha com fones de ouvido, escutando, sei lá, Crash Test Dummies num volume alto o suficiente para o barulho do trânsito não te incomodar. E olhando para baixo, porque você usa óculos de grau então não tem óculos escuros para te proteger do sol.

Passa por calçadas quebradas, bitucas pisadas, sacos de lixo aguardando coleta, e de repente você percebe um pedaço de calçada coberto de sombra, todo manchado de um preto avermelhado, como se pequenas gotas de sangue tivessem chovido num raio de uns 2 metros. Não se assuste. Olhe para cima e verá o exemplo de gentileza a que me referi acima: uma amoreira, plantada no jardim da frente de uma casa, cujos galhos oferecem gratuita e generosamente os pequenos frutos a quem passa. Segue um manual de etiqueta e senso comum para estas situações.

1. Dos galhos que estão do lado de fora do muro, cerca, grade, portão ou algo que o valha, pode pegar. O que está dentro é do dono da casa.
2. Não seja fominha. Pegue uma, duas, três. É um regalo, não é um banquete. (criança pode)
3. Pegue só as pretinhas. Deixe as vermelhas e as verdinhas para quem passar por lá daqui a alguns dias.
4. Se você for uma pessoa alta, dê preferência para as amoras mais inalcançáveis. Assim os baixinhos também têm chance.  (aliás, ofereça ajuda se vir um baixinho tentando de tudo para puxar um galho para baixo)
5. Não é porque aquela amora do chão está inteirinha que você pode comer. Deixe para os passarinhos e formigas. Eu nem precisava dizer isso, certo?
6. Não quebre um galho para levar pra casa. Já vi gente fazendo isso. Na boa. PQP
7. Cuidado com as roupas. As brancas atraem. Não sai de jeito nenhum.

Se você quiser investir na gentileza para com os transeuntes de seu logradouro, plante uma amoreira na beira do seu terreno. Leva uns 2 anos para produzir, dá frutos de setembro a dezembro dependendo da variedade, e não precisa de muitos cuidados.

Amoreira

16 de agosto de 2011

Estou vivo

Estava limpando um fichário dos tempos da (primeira) faculdade para usar na pós e encontrei uma folha em cujo rodapé está escrito:

Toni é uma pessoa que consegue escrever sobre muitas coisas, menos sobre ele mesmo.

oremos

21 de fevereiro de 2011

Minha vida de acordo com quem?

Eu não quero decepcionar ninguém, muito menos minha amiga e comparsa Camila Pires, aquela moça que está diferente de quando eu a conheci lá nos idos de 2005, quando ainda morava em Guarulhos e tomava condução pra trabalhar no Butantã e agora mora nas Perdizes e vai cada dia com um carro diferente, dizem que já foi vista com Celta, EcoSport, Palio e Uno, mas tudo o que ela queria era mesmo um Fiesta, a Camila que me deixou como desafio, como provocação, como afronta a tarefa de descrever-me a mim mesmo utilizando apenas títulos de canções de uma certa banda ou artista de minha preferência, à minha livre escolha.

O que ela não sabe é que eu já fiz isso, meses atrás, lá no Facebook. Se você for meu amigo pode ver, se for só um curioso leitor que chegou aqui após ter feito uma sequência fortuita de cliques depois que meu nome foi citado no twitter do Sr. Mombojó por causa da supra-citada Srta. Pires, pode ler aqui abaixo.

Minha vida de acordo com Belle & Sebastian

Escolha o seu Artista: Belle & Sebastian
Você é um homem ou mulher? Lord Anthony
Descreva-se: Wrapped up in books
Como você se sente? My Wandering Days Are Over
Descreva o local onde você vive atualmente: I'm not living in the real world
Se você pudesse ir a qualquer lugar, onde você iria? Ease your feet in the sea
Sua forma de transporte preferido? The Rollercoaster Ride \o/
Seu melhor amigo? Little Lou, Ugly Jack, Prophet John
Você e seu melhor amigo são? We Rule The School
Qual é o clima? Nice day for a sulk
Hora do dia favorita? Waiting for the moon to rise
Se sua vida foi um programa de TV, o que seria chamado? The boy done wrong again
O que é vida para você? A Space Boy Dream
Você sorri quando? If She Wants Me
Você chora? The blues are still blue
Seu relacionamento? There's too much love
Seu medo? It could have been a brilliant career
Qual é o melhor conselho que você tem que dar? Stay Loose
Pensamento do Dia: A Summer Wasting
Meu lema: The magic of a kind word

Mas como eu não quero decepcionar ninguém, nem os amigos, nem os leitores fiéis, nem os leitores casuais, vou aceitar novamente esse desafio e me reinventar, proporcionando a vocês mais um olhar bisbilhoteiro na minha alma playlist. Vou trapacear um pouco, pegar um artista em carreira solo e a banda que o lançou, porque uma obra é praticamente continuação da outra. Impeça-me se você acha que já ouviu isso antes.

Minha vida de acordo com Morrissey + The Smiths

Escolha o artista/banda: Morrissey + The Smiths
Você é homem ou mulher? Tony the Pony
Descreva-se: This charming man
Como você se sente? Panic
Descreva o local onde você vive atualmente: What difference does it make?
Se você pudesse ir a qualquer lugar, aonde você iria? Nowhere fast
Sua forma de transporte preferido: On the streets I ran
Seu melhor amigo: I like you
Você e seu melhor amigo são: The ordinary boys
Qual é o clima? Paint a vulgar picture
Hora do dia favorita: Tomorrow
Se sua vida fosse um programa de TV, como seria chamado? Little man, what now?
O que é vida para você? Life is a pigsty
Você sorri quando: I just want to see the boy happy
Você chora quando: I know it's over
Seu relacionamento: Now my heart is full
Seu medo: I started something I couldn't finish
O melhor conselho que você tem a dar: You're gonna need someone on your side
Pensamento do dia: Sing your life
Seu lema: Do your best and don't worry

Ainda para não decepcionar ninguém, pois pelo que entendi é esperado de mim que eu indique uma pessoa para assim perpetuar o alcance desta série, e já que a banda por mim escolhida foi The Smiths, nada mais adequado que passar a palavra a uma ilustre blogueira recém retornada à Manchester Goiana, que assim como eu terá que se reanalisar para chegar a uma nova biografia musical, a minha querida amiga Conge, que de sua cozinha anapolina faz sair vez ou outra biscoitos que cruzam o planalto central e vêm se estabelecer bem aqui no buraco negro do Google Street View em São Paulo, conhecido como o bairro do Brooklin.

10 de janeiro de 2011

Não pode por quê?


Hoje, na Fnac do Morumbi Shopping, fui abordado por um funcionário ao tirar uma foto, com o celular, da capa de um livro. Perguntei o motivo, ele disse que era um espaço privado e que era proibido tirar foto dentro da loja, e que se eu insistisse eu poderia ser abordado por um segurança (jeito fino de dizer que ele o chamaria). Eu expliquei que eu era apenas um cliente querendo guardar o nome de um livro para comprar depois, e que nesse caso eu certamente não o compraria na Fnac, e sim na Livraria Cultura.

Devo dizer que já tinha ressalvas em comprar livros, CDs e DVDs na Fnac, por um motivo muito simples: não ganho nada fazendo compras lá. Para pontuar no programa de fidelidade deles, preciso ter o cartão de crédito private label da Fnac. Eu não preciso nem quero mais um cartão de crédito na minha vida carteira, então prefiro fazer minhas compras na Livraria Cultura (de todas a minha preferida, pelo atendimento e ambiente) ou na Saraiva, onde só precisei fazer um cadastro para ter descontos e ganhar pontos (aliás, meu CD novo do Pato Fu saiu quase de graça na Saraiva com esses pontos).

Uma pechincha, e valeu cada ponto

Fiquei com essa pulga atrás da orelha e aproveitei, já que estava por perto, para atravessar a rua e ir à Livraria Cultura do Shopping Market Place pra saber como funciona por lá. Já tirei fotos de capas de livros lá dezenas de vezes, mas nunca me abordaram por causa disso. Fui perguntar para a mocinha do caixa e contei o que tinha me acontecido na Fnac. Ela disse que na Cultura também não podia, e que era uma questão de direito autoral do livro. Perguntei: Mas se eu comprar o livro, pode? Resposta: Aí pode, porque o livro é seu. Ela concordou comigo que isso era meio ridículo, mas que era assim.

Eu não sou advogado, mas se tem uma lei que eu conheço relativamente bem é a Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998 (eu não tive que pesquisar essa data, juro, decorei pra uma prova), pois como fotógrafo amador e pseudo-cineasta essa é uma lei que me afeta.

Esta confeitaria não entendeu bem o escopo dessa Lei

Eu não quis discutir com a mocinha do caixa porque ela parecia super ocupada, mas pelo que me consta os direitos de um livro (ou de qualquer obra) não passam a ser meus a partir do momento em que eu o compro. É apenas um exemplar. Ademais, a lei não considera ofensa aos direitos autorais "a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro" (capítulo IV, artigo 46, inciso II - isso eu pesquisei, confesso). Nem era esse o caso: eu queria a imagem apenas para lembrar de ir atrás dele depois. Eu já tinha lido um livro do Martin Page (mentira, eu li metade, o livro sumiu, quem pegou?) e fiquei interessado em ler outro.

Reprodução seria, digamos, postar a tal foto do livro aqui.

Eu não queria reproduzir, eu queria apenas ter. Vocês podem dizer: por que você simplesmente não anotou o nome do livro e do autor? Eu respondo: porque eu tenho preguiça e um celular com câmera. E pra mim câmera de celular não é boa o suficiente pra tirar fotos de verdade, então eu a uso quase que exclusivamente pra registrar coisas e lembrar depois. Tiro foto de receita pra não ter que copiar à mão, ok?

E eu só reproduzi a capa do livro aqui por birra, e porque esse blog não tem fins lucrativos. (Aliás, perceberam que eu tirei os anúncios do Google? Se vocês soubessem a grana que eu estava ganhando com eles, teriam ficado com pena e clicado obsessivamente em cada um)

Pronto, agora vocês sabem.

Para me garantir, perguntei para meu primo, que é sócio de uma editora, se uma editora (que é quem detém os direitos sobre a obra) se importa com isso. Ele disse que não, que juridicamente não há violação dos direitos, e que mercadologicamente a editora acha ótimo que se divulgue a capa dos seus livros.

Então a explicação da moça simpática do caixa da Livraria Cultura não procede. A mesma explicação eu recebi, via Twitter, de uma amiga e ex-funcionária da Fnac:


Não tirei foto da loja e o argumento não se aplica ao produto. A única explicação que me restou, ainda que frágil, foi a que meu primo me passou: alguns comerciantes criam estas restrições para evitar que as fotos de seu estabelecimento cheguem às mãos dos seus concorrentes, e eles possam analisar a disposição e a variedade dos produtos, e com isso roubar a vantagem competitiva deles. Considerando que um concorrente pode entrar livremente na loja, acho que a Fnac (e qualquer outro comerciante) tem mais a perder ao constranger um cliente do que se cancelasse essa proibição.

Mas também não tenho certeza se é esse o problema. Escrevi para o SAC das duas livrarias para perguntar qual é o motivo disso. Se eu receber uma resposta, publico aqui. Escrevi também para a Rocco, que é a editora do livro, para saber o que eles pensam.

Como disse a Flavita, "ai, essas lojas de 1900". Eu não pensei que fosse o caso destas duas livrarias. As duas têm aplicativos para iPhone que permitem ler o código de barras dos produtos da loja, e para isso é preciso, pasme, tirar uma foto (ainda que app o da Fnac só esteja disponível na França e que o da Livraria Cultura, mesmo depois da atualização que prometia resolver o problema, ainda tenha um bug que impede essa funcionalidade no meu aparelho). E ainda tem o Google Goggles, funcionalidade recém lançada para o iPhone (acho que já existia para Android) que permite fazer buscas a partir de imagens (livros, obras de arte, logos, etc). A tecnologia tenta facilitar a nossa vida, a irracionalidade segura.

Update 17/01:

Recebi a resposta da Fnac.
Prezado Sr. Antonio,
Informamos que seu comentário foi encaminhado ao departamento responsável, desde já agradecemos por seu comentário, pois é através de críticas e sugestões que podemos melhorar nosso atendimento.
Andréia Silva
Atendimento – fnac.com.br
 Minha réplica:
Bom dia, Andréia,
Obrigado por encaminhar a minha mensagem aos responsáveis. Aguardo a resposta deles.
Antonio
Resultado:
This is an automatically generated Delivery Status Notification.
Delivery to the following recipients failed.
      atendimento@fnac.com.br
Eu meio que já esperava isso. Como consumidor, é extremamente frustrante enviar uma solicitação/questão/pergunta específica para uma empresa e receber uma resposta genérica e evasiva. Concordo em enviar a mensagem para o departamento responsável, mas gostaria que o atendimento continuasse com eles. Na teoria do atendimento ao consumidor, o SAC faz o atendimento em si, intermediando a comunicação com os demais departamentos. O cliente não quer saber se a sua pergunta chegou à pessoa certa; ele quer saber a resposta. Vou tentar novamente pelo site.

Update 03/02:

Recebi, em 18/01, a seguinte resposta da Fnac:

Prezado Sr. Antonio,
Encaminhamos seu e-mail ao reponsável da loja para análise e pedimos por gentileza para aguardar um retorno.
Atenciosamente,
Elaine de Oliveira
Atendimento – fnac.com.br

Até o momento, não recebi o retorno prometido.