26 de junho de 2010

Interatividade é isso

Depois de ler os comentários que deixaram no último post, o post da May também sobre solidão e o da Nat em resposta a nós dois, achei necessário escrever de novo.

Porque interatividade é isso.

E porque essa Geladeira tá cheirando a mimimi, e não é por aí.

Como eu disse no comentário que eu deixei para a Nat, o problema não é ficar só, passar um dia sozinho. Isso é ótimo, às vezes necessário, e dependendo do que pretendo fazer, até prefiro. Não conheço ninguém que tenha paciência de ir a um museu comigo, por exemplo; eu posso passar horas lá e odeio que me apressem, então prefiro ir sozinho mesmo.

Mas é melhor quando ficar sozinho é uma das opções, e não a única. E quando essa não é a alternativa mais frequente.

E quando eu falo sobre não estar sozinho, não estou falando de estar com amigos. Amigos são ótimos, mas não bastam.

* * *

E para não dizerem que não ligo para os meus leitores, já que o @alesqui protestou, eu vou retomar o meme de cinema.

Porque interatividade é isso.

19 de junho de 2010

Rouco de tanto silêncio

Esses dias que passo sozinho, em que praticamente só vocalizo as palavras da gentileza (bom dia, com licença, por favor, obrigado), têm em mim um efeito parecido com uma noite no karaokê.

Fico rouco.

A garganta, seca e atrofiada, arranha. Estranha.

Quando finalmente falo, a voz sai fraca, trêmula, grave, insegura, baixa. Eu mesmo não reconheço.

* * *

Esses dias que passo sozinho devem ser a única coisa boa de estar solteiro. Não faço planos, ou se faço, mudo e não preciso convencer ninguém.

Hoje fui ao centro levar a velha câmera do meu pai para consertar. Larguei o carro na estação e fui de metrô, que é bem mais fácil ir para o centro de metrô. Na volta, decidi ir até um laboratório em Pinheiros pra deixar uns rolos, e aproveitaria para conhecer a nova linha amarela.

Mas por enquanto a linha amarela só funciona em dias de semana, então mudei de planos. Desci no MASP e tirei algumas fotos. Deu vontade de entrar, mas passou.

Deu vontade de ir até o SESC Paulista. Fui andando pela Paulista, passei na frente do Centro Cultural Fiesp. Deu vontade de entrar, entrei. Exposição fotográfica da Maureen Bisiliat, inglesa que veio pro Brasil em '57 e nunca mais foi embora. Fotografou os sertões de Euclides da Cunha, o sertão de Guimarães Rosa, o xingu dos Villas Boas, China, Bolívia, Japão.

Havia uma sequência de uma vila de pescadores. Ele teciam suas próprias redes, iam para o mar em seus próprios barcos, pescavam seus próprios peixes. Tão artesanal, equilibrado, inofensivo.

Pensei que se eu estivesse lá, comeria aquele peixe. Mas a última foto era de um golfinho morto, preso naquela rede.

Saí, continuei andando em direção ao SESC, cruzei a Pamplona, lembrei da Goóc e deu vontade de entrar. Estou procurando uma carteira nova, mas você sabe como é difícil achar uma carteira que não seja feita de couro?

Na Goóc tem, mas eu não gostei.

Deu vontade de almoçar. O Cheiro Verde era ali perto. Comi tofu. Era bastante comida mas não pesou nada no estômago. O pudim de laranja vale o retorno.

Voltei a andar, passei na frente de um lugar que eu queria ir há algumas semanas. Por sinal, eu havia me programado para ir hoje, mas esqueci. Olhei no relógio, tinha acabado de fechar.

O bom de ser solteiro é que se você não faz uma coisa que tinha planejado, a única pessoa que você desaponta é você mesmo.

Cheguei ao SESC e estava fechado. Em reforma. O Itaú Cultural, em frente, estava com programação do Sganzerla. Deu vontade de entrar, mas passou.

Passei na frente da Casa das Rosas. Deu vontade de entrar, entrei. Andei pelo jardim, andei pelo terraço, andei pela varanda. Entrei na biblioteca, escolhi um livro e comecei a ler. Grande Sertão, porque a exposição me inspirou. Mas não era o livro certo para ler daquele jeito. Decidi trocar por um livro de contos, fui no Primeiras Histórias, mas ao lado do Rosa estava o Roque. Luiz Roque, e eu achei uma coincidência absurda encontrar um dos livros do meu professor de química do colegial na biblioteca da Casa das Rosas.

Para um químico, uma pessoa das ciências exatas, exímio enxadrista, até que os contos dele são bem fantásticos. Como diz o título do livro, aliás. São minicontos de até uma página e meia, e os que eu li parecem fragmentos de sonhos.


Saí de lá, voltei pro Shopping Metrô Santa Cruz onde eu tinha largado o carro. Do último piso do estacionamento o pôr do sol estava bonito, tirei umas fotos.

Esses dias que passo sozinho devem ser a única coisa boa de estar solteiro. Mas abriria mão deles fácil, fácil.

Não terminei o meme dos filmes, né? Nem vou.