24 de fevereiro de 2010

Porque me tornei vegetariano

The Dawn of Vegetarianism: Lisa Simpson and the Lamb and some Lamb Chops
Em 1 de fevereiro de 2010, eu me tornei vegetariano.

Desde então, ouço quase diariamente a perguntas como "por quê?" e "mas nem peixe?"

A resposta mais simples para a primeira é que isso é algo em que eu já estou pensando há muito tempo, já vinha tentando aos poucos, aí conversei com algumas pessoas, li algumas coisas e decidi.

O que eu não disse é O QUE eu tenho lido. Não quero ser um daqueles vegetarianos chatos que tentam converter o mundo ao vegetarianismo. Sinto que não é assim que funciona, porque quando eu comia carne eu conheci desses vegetarianos e eles não me convenceram. Ninguém vira vegetariano por pressão.

O outro lado disso são os onívoros que tentam convencer os vegetarianos a comer carne. Pela minha experiência, são mais chatos que os anteriores. Vegetarianismo é normalmente uma opção consciente, então um onívoro tentar desconverter um vegetariano é perda de tempo.

Então, nesses casos, eu explico os motivos reais.

Eu não acho errado comer carne. Eu não deixei de gostar de carne. Eu não me arrependo de ter comido carne durante 25 anos da minha vida. Várias vezes eu já me peguei pensando na vaquinha, no porquinho, na galinha e no peixinho, em como eles são animaizinhos tão fofos, inteligentes e sensíveis à dor quanto o meu gato ou o meu vizinho. E pensei: por que comemos vaca e não comemos gato? Só porque o peixe não grita ele não sente dor? Porque é ok pescar um peixe e matá-lo asfixiado, mas essa não é a prática aceitável para abater uma vaca?

Não foi o argumento da crueldade que me convenceu. Talvez pela minha ignorância dos métodos utilizados - já li, já vi videos, mas uma parte de mim faz questão de esquecer isso, e acho até bom. A dor existe para todos os seres vivos e é inevitável, assim como a morte. Acontece na natureza. O salmão come os peixes menores, o urso come o salmão. Já ouvi dizerem que o ser humano foi dotado de uma inteligência superior e de polegares opositores para ter controle sobre os outros animais, porque é superior a eles. Mas note: o ser humano não precisa comer os outros animais. É possível sobreviver sem carne. Ao optar por comê-los, portanto, o ser humano torna-se mais um elo na cadeia alimentar. Não se mostra superior aos outros animais, mas igual a eles. O salmão come os peixes menores, o ser humano come o salmão. (Esse é o ponto em que discordo do Jonathan Safran Foer, que escreveu Eating Animals. Ele acha que comer carne é um reflexo da negação da sua própria natureza animal. Eu acho que, comendo carne, nós involuntariamente nos colocamos no mesmo nível deles.)

Se não foi o argumento da crueldade que me convenceu, sobram dois: meio ambiente e saúde. Sobre o primeiro, vale a pena ler o post de hoje no blog do Guardian sobre o assunto. Resumão dos dados:


  • A pecuária produz mais gases de efeito estufa do que todos os trens, carros, caminhões, navios e aviões do mundo juntos. Sim, estamos falando de peido de vaca, mas não só disso. A agricultura animal é responsável por 37% do metano, que é 23 vezes mais perigoso para o aquecimento global do que o CO2, e 65% do óxido nitroso, 296 vezes mais perigoso para o aquecimento global do que o CO2.
  • Os recursos consumidos por um onívoro médio em busca de proteína animal poderiam nutrir até 10 vegetarianos.
  • Isso sem falar no impacto do processamento e do transporte da carne que chega até a sua mesa.
  • Peixe: o peixe mais consumido no mundo é o atum. Na pesca industrial do atum, 145 espécies de animais acabam caindo nas redes de forma secundária. Morrem e são jogadas de volta para o mar. São outras espécies de peixes, arraias, tubarões, enguias, alguns mamíferos e algumas aves marinhas. Estima-se que, de cada 10 atuns, tubarões ou outras espécies de peixes predatórios que viviam nos oceanos há 50 ou 100 anos atrás, hoje em dia resta apenas 1.
  • Camarões: verdade, muitos são criados em cativeiro (50% dos peixes e frutos do mar consumidos hoje são de aquacultura). Há casos de fazendas de camarão que destroem ecossistemas importantes, como os manguezais, mas não vou generalizar. No caso dos camarões pescados diretamente do mar, para cada quilo que chega à nossa mesa, até 26 quilos de outros animais marinhos foram mortos e jogados de volta no mar.
  • Salmão: para criar em cativeiro, é necessário de 3 a 5 quilos de outros peixes para produzir 1 quilo de salmão.
Para cada um desses argumentos deve haver outro para rebater. A cultura de soja desmata a Amazônia, os agrotóxicos poluem, os transgênicos fazem mal. Há quem negue que o aquecimento global seja causado pelo ser humano, e há quem diga que é parte de um ciclo natural do planeta. Não é um assunto simples. Mas, por via das dúvidas, vou fazer a minha parte.

Não é um sacrifício tão grande assim. Com a mudança de dieta, comecei a descobrir novos alimentos e a prestar mais atenção no que eu como. Antes eu comia qualquer coisa, sem pensar por um minuto se eu realmente precisava daquilo ou se me faria bem. Agora, tomo mais cuidado com o que coloco no meu prato, tentando sempre compensar a falta de proteína animal com outras fontes de proteína - soja, laticínios, feijões, brotos. Agora que sei que eu preciso de cerca de 50g de proteína por dia, aqueles hambúrgueres de 150g me parecem um exagero. E não é um sacrifício grande. Se você parar para pensar, vai ver que mais de 80% das coisas que você come não contém carne, ou poderiam não conter.

A carne, especialmente no Brasil, é um produto banal. Está disponível em uma quantidade muito maior do que a que nós precisamos. Antigamente, para se obter carne, era preciso caçar um antílope ou matar uma galinha. Não era todo mundo que comia carne todo dia. Carne era praticamente um artigo de luxo. De lá para cá, as nossas necessidades nutricionais não mudaram muito. Nós continuamos não precisando de toda essa carne que nos é oferecida. Eu optei por não comer mais, mas acho que qualquer esforço para reduzir a quantidade também é válido.

Aguacaterl rellenorl

8 comentários:

  1. Eu odeio vegetarianos porque todos os que eu conheço sao uns chatos. Ainda bem que nao te conheço :D

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  2. Eu me sinto absolutamente em cima do muro nessa questão. Nunca fiz esforço pra virar vegetariana, embora meu consumo de carne seja dos mais baixos que conheço - já passei mais de um mês sem um bichinho no meu prato.

    Mas, como eu devo ter dito quando vc mencionou sua nova dieta, acho uma ideia válida, sim. ainda não me dispus a isso, mas aprecio e, quem sabe, largue a carne de lado um dia.
    Onnívora, ou não, te faço um prato veggie - e criativo - quando vier me visitar. ;)

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  3. Isso ae, Toni! O mais importante é nos conscientizarmos. Daí para o resto do mundo, é um pulo!

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  4. Parabéns pelo post e pela iniciativa. Há um bom tempo tbm venho considerando deixar de comer carne por esses motivos que vc citou e mais alguns, como ter uma dieta mais saudável. A forma "industrial" como os animais são tratados tbm me incomoda. Por isso considerei o consumo de orgânicos antes de cortar de vez a carne da alimentação (frango e ovos só compro orgânicos). O problema é comer fora de casa... Quem sabe um dia chego lá tbm...
    bjs

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  5. O que eu odeio em vegetarianos são as baboseiras sobre abate, arcada mandibular e amar os animais...todos tentam convencer que os humanos não foram feitos pra comer carne.... eu sou a favor do vegetarianosmo desde seja pelo motivo certo... e não por besteiras absurdas...
    Sua causa é válida! Aproveita e ensina pro outros vegetarianos um motivo decente pra não comer carne!!!!

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  6. acho vegetarianismo bem legal. eu já tentei, mas não durou mais que uma semana. minha alimentação é ruim, porque não como muito vegetal e verdura, e de verdade, eu nunca conseguiria dizer não a um pedaço de carne bem passado. mas muito legal o post. :)

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  7. sim, contra cada argumento teu, há vários outros contrário. o importante é que você saiba da tua decisão.

    (:

    (adoro hamburguer de ricota com legumes..)

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