19 de agosto de 2009

Educação musical

Eu sou uma criança da segunda metade da década de oitenta e cresci ouvindo Xuxa. Pronto, falei. Achei melhor começar logo dizendo isso pra tirar do meu sistema. Aliás, não só Xuxa, mas também Mara Maravilha, Angélica e outras apresentadoras/cantoras/etc. Uma geração anterior de crianças cresceu ouvindo Os Saltimbancos, do Chico Buarque. Uma geração seguinte tinha Palavra Cantada, Adriana Calcanhoto Partimpim. A minha foi uma geração perdida, que podia escolher entre as apresentadoras de TV e um ou outro grupo de crianças cantoras, como Trem da Alegria ou Balão Mágico.

O que eu quero dizer é que a minha educação musical teve grandes lacunas. Fui conhecer Beatles direito só na época da faculdade. O que se ouvia lá em casa era basicamente Roberto Carlos, por causa da minha mãe. Mas, embora eu tenha sido colocado pra fazer aula de piano quando criança, na verdade minha família nunca foi muito de música. Meu pai realmente não ligava, as únicas que ele realmente gostava eram Champagne e Saudade da Minha Terra. Na crise de meia idade ele começou a ouvir country. E hoje minha mãe chora quando ouve qualquer coisa, então né?

Nas viagens de carro – fazíamos muitas – era quase regra ouvir Carpenters. Disso eu gosto até hoje, porque é tão lindo quanto brega. Nat King Cole também tocava, mas com menos frequência.

Aí veio a escola, com a escola vieram as festinhas, e a dominação cultural e tudo mais, e o que se ouvia naquela época era música dance, então quando eu estava na quarta série comprei meu primeiro CD de música dance, que foi o Hit Parade. Um clássico.

1994 - Hit Parade - Front

Não lembra? Clica aqui que eu refresco sua memória. Só não encontrei duas faixas, What's Wrong With (Flavia Mollokay) e I'll Find A Way (Rachel Gold). -- Edit: Tiraram do ar o vídeo de Somebody Dance With Me (DJ Bobo). =/

Então a minha educação musical fui eu mesmo que fiz. Aliás ainda estou fazendo. Praticamente tudo que eu gosto hoje eu descobri sozinho, não teve ninguém que chegou pra mim e disse “filhão, isso aqui é Beatles, isso é Stones, isso é Radiohead, etc”. Foi sempre de ouvir no rádio, ou num filme, ou ler uma matéria, ouvir alguém comentar. E com isso ainda hoje tem muita coisa que eu conheço pouco. Enquanto tá todo mundo correndo atrás de bandas novas legais, eu tô correndo atrás das velhas.

O pior é pensar em todas as oportunidades que eu tive de ter contato com música boa quando estava crescendo e perdi.

Top 5 chances perdidas:

#1 Mais ou menos em 1992 ou 1993, o filho da comadre da minha mãe me deu um CD que tinha na capa um bebê nadando atrás de dinheiro. Agradeci com um sorriso amarelo; devo ter ouvido umas 3 vezes antes de doar pro Roger, em 1999 ou 2000, como se fosse um casaco velho na campanha do agasalho.

#2 Em 1994 fui ao aniversário de um colega meu da escola, num sítio em Itu. Não sei exatamente o porquê, já que eu não gostava nem um pouco dele. Mas enfim. Acho que eu pensei que ia mais gente, mas aparentemente eu não era o único que não gostava dele. Mas o verdadeiro problema era o melhor amigo dele, que era tipo meu nêmesis na escola. E ele ficou contando de uma banda que o irmão dele gostava, cujo vocalista tinha alucinações com índios e tinha morrido de overdose na banheira em Paris. Óbvio que não dei muita bola, o que minha mãe iria pensar se me visse ouvindo música desse cara?

#3 Uma vez meu avô me deu um livro com a biografia de Franz Schubert, e era uma versão infantil, cujo foco era principalmente a infância e a adolescência do compositor. Era legal, mas não me fez ouvir nada dele. Fui lembrar disso quando ouvi pela primeira vez a Fantasia para Violino e Piano em dó maior D.934.

#4 Quando em 2001 peguei emprestada a discografia do Iron Maiden com um amigo meu, pra ver se gostava daquilo, e desisti por me deixar com dor de cabeça. Pelo menos ele me apresentou pra Sonata Arctica também, que ainda ouço de vez em quando.

#5 Provavelmente o maior #fail de todos, as inúmeras discussões que tive com o Roger em que eu insistia que Pato Fu era mais legal que Oasis.

4 comentários:

  1. oi, eu gosto de pop! HAHAHAHAHAHAHAHA

    :P

    ResponderExcluir
  2. hahahaha!
    Conheço muita gente que sofreu desse mesmo problema. A sorte é que a gente tem o São Google e o Santo Youtube pra ajudarem.

    (e eu agradeço todos os dias pelo avô amante de música erudita e pela mãe roqueira que tenho. Facilitaram muito a minha vida!)

    E Schubert é lindo, não?!
    =)

    ResponderExcluir
  3. Na minha casa, sempre ouvia Pink Floyd, Beatles, Stones, Chico Buarque e outras coisas por causa do meu pai. Por causa da minha mãe, tinha muito Queen. As outras vinham do meu irmão, tipo Sex Pistols, Beach Boys e The Doors. Mesmo assim, consegui me desvirtuar e seguir um caminho de péssimos sons (culpa da pré-adolescência...). Mas consegui enxergar a luz logo!

    ResponderExcluir
  4. Adorei! Sim, eu sou da geração que ouvia, quando criança, os Santimbancos e Pirlimpimpim! Xuxa? Sempre detestei com todas as minhas forças. E esse mesmo CD da capa azul com um bebê correndo atrás do dinheiro foi um dos meus primeiros discos (sim, vinil, o bolachão - eu ainda não tinha toca cd) da "fase adulta" - ou seja, quando eu mesma já podia escolher o que queria ouvir e pedia de aniversário ou natal. Aliás, hoje tenho a certeza que estou ficando velha quando toca qualquer música do Nevermind em uma pista qualquer e as pessoas não conhecem nem mesmo o refrão. Independentemente do meu gosto pela música, e das minhas preferências atuais, posso dizer que tive sorte - ou melhor, minha geração teve sorte - aproveitou quem pode. Não apenas por conta dos depressivos/decortarospulsos hits dos anos 80 (que hoje, incrivelmente, fazem o maior sucessos nas baladinhas indies e alternativinhas de SP) mas também porque vivi, com todas as minhas forças (com direito a camisa xadrez e tudo mais), o movimento grunge, de Soundgarden a Pearl Jam, e o "pós-grunge" de Weezer, Radiohead e por aí vai. Talvez isso tenha me tornado um pouco intolerante em relação aos sucessos dances dos anos 90. Mas esse já é outro papo. Acho que falei demais! bjs

    ResponderExcluir